António Gamito
Radiotelegrafista
Radioamador – CT1CZT
Com o desenvolvimento e implementação crescente de novas tecnologias na área das comunicações, particularmente nas radiocomunicações, o uso e prática do código de Morse decresceu substantcialmente sobretudo a partir de 1 de Fevereiro de 1999 com a entrada em vigor do Sistema Marítimo Global de Socorro e Salvamento – GMDSS1.
A partir de então e porque essa data fez indirectamente o anúncio formal da morte do código de Morse, as unidades de formação de radiotelegrafistas não mais formaram profissionais na matéria. Em consequência tem vindo a verificar-se ao longo do tempo, principalmente em Portugal, um decréscimo acentuado da quantidade e qualidade de operadores habilitados a operar o código de Morse.
A constatação desta realidade constitui motivo de preocupação na medida em que tende a que o país fique descocupado desta espécie de topeiras que durante um século garantiram ao mundo as comunicações de que necessitava.
Garantiram ao mundo o salvamento de muitos milhares de vidas no mar, no ar e mesmo em terra.
Eram criaturas anónimas entrincheiradas num qualquer bunker em terra, num cubiculo no mar ou no ar, que com a sua prática e destreza na operação do código de Samuel, conduziam as operações de socorro que tantas centenas de milhar de vidas haverão salvo. Eram os Radiotelegrafistas anónimos, aqueles de que ninguém fala, que ninguém conhece, que ninguém até hoje valorizou e sem os quais o mundo teria sido diferente.
Eles merecem uma estátua em homenagem ao Radiotelegrafista anónimo.
Ninguém mais terá feito tanto pela vida humana do que estas invisíveis criaturas.
Nem o enjeitado Aristides de Sousa Mendes, mesmo assim evocado, fez tanto pela vida de terceiros, como o hão feito estes profissionais do chamado “pica-pau”.
Mas para não desviar da intenção inicial convém então dizer que a ausência de formação de novos operadores radiotelegrafistas reduziu a valores mínimos aquilo a que poderíamos chamar o fundo de reserva estratégica de operação da modalidade CW.
Verificamos hoje que apenas uma meia dúzia de radioamadores, autodidactas por definição e natureza, por sua conta, esforço e vontade se vão desta aptidão apetrechando. Ainda assim o fazem em grande parte por objectivos.
Ou seja, até muito recentemente e por força da lei, um deles era a passagem de classe, além de outros que nos escusamos aqui de referir mas que são conhecidos de todos.
Na perspectiva de um esvaziamento eminente de operadores de cw, sobretudo de bons operadores de cw, vamos insistir na formação de operadores de radiotelegrafia, porque temos uma vaga percepção de que a sociedade, embora ande ocupada com outros interesses, necessita de ter criaturas com aptidões deste calibre.
Mesmo com todas as tecnologias e equipamentos modernos actualmente ao serviço da sociedade se torna fácil confirmar que a abrangencia do uso das radiocomunicações fica amputada se nela não incluirmos esta espécie em extinção.
No campo de radioamadorismo todos verificamos uma quase total ausência de CT’s operando cw nas bandas.
É talvez tempo de alterar esta situação.
É talvez tempo de formar operadores de cw.
É talvez tempo de em Portugal as associações em geral se ocuparem desta matéria.
É talvez tempo de criar incentivos e modelos que desenvolvam a apetência pela prática da modalidade.
Falou-se em tempos não muito distantes, da concretização de um evento do tipo CW QRS Contest. Embora a preguiça, a indolência e o comodismo que assola muito bom cidadão acreditamos mesmo assim que a paciência de uns e o esfoço de outros este evento lotasse as faixas de cw.
Uma louvável iniciativa! Mas não se sabe se ainda mantém ou algum sinal vital.
Pela nossa parte, temos feito pouco mas ainda assim alguma coisa em prol desta causa que só alguns abraçam, mas estamos em crer que se todos fizerem um pouco, teremos um somatório compensador.
Depois de alguns actos de contraformação praticados em frequência seguramente por algum surdo, propomos-nos oferecer o nosso tempo e a nossa experiência em favor desta causa.
Precisamos para concluir com sucesso, conforme consta nos objectivos do curso, apenas que os formandos tragam à “sala de aula”, vontade de aprender, capacidade e esforço para alcançar o objectivo e obviamente assiduidade.
1. Sistema de que poderemos falar noutra ocasião.